Offshores e outros folclores

Chegou a segunda tentativa do Expresso para vender mais papel, agora com os Pandora Papers, atirando para o fogo da opinião pública mais nomes (neste momento mais três) prometendo divulgar mais nas próximas edições. A avaliar pela primeira, parará quando por detrás da cortina encontrar “caça grossa”.

Recordemos que na primeira (os panamá papers) fez apressado stop quando tropeçou num funcionário bancário a trabalhar no Luxemburgo, curiosamente apelidado de senhor Cunha. Fica-se com a curiosidade de saber porque é que tamanha quantidade de jornalistas de “investigação” não cuidaram de saber ou conhecer a lista de clientes deste senhor.

Tivessem podido fazer este trabalho e encontrariam uma preciosa fonte que lhes revelaria os caminhos de muito “investimento” colocado naquele país e a partir dele noutras partes do mundo. As consequências seriam importantes, até para limpeza de alguns opinadores do regime que nos continuam a informar como harmonizar o mundo financeiro e até ultrapassar as crises (repetitivas) que o dinheiro teima em provocar.

Entramos assim no folclore das offshores, em que toda a informação será repetida, a indignação dos mesmos será publicada e promovida, de modo que tudo fique na mesma. Como convém.

O saco escondido, com rabo de fora

Esconder o dinheiro é um acto muito comum, até para gente séria. Que o digam os nossos avós que não tinham bancos à porta e desenvolveram a teoria do colchão, como medida cautelar. Com as offshores acontece mais ou menos o mesmo, com a vantagem para os  nossos avós confiantes que eram no segredo da coisa que ficava na família.

Com as offshores, esta intimidade não existe, dado que todo o dinheiro é transferido ou depositado numa conta bancária que não sendo titulada pelo dono da massa fica registada em nome de procurador e a indicação do beneficiário “final” – vá-se lá saber o que isto significa, pois depende dos actos praticados pelo procurador, normalmente possuidor de “poderes” (alguns mágicos).

Contudo o controlo internacional do tráfego de moeda é feito (sabemos por quem) sabendo-se de onde vem e para onde vai, havendo mesmo (está na lei) poderes instituídos capazes de bloquear transferências internacionais.

Quer isto dizer que colocar dinheiro numa offshore é uma possibilidade de fácil acesso, como é “transparente” o seu circuito. Contudo é necessário que a vigilância seja feita por quem, vendo, queira ver, para isso precisando de um quadro legislativo que suporte a sua análise, e, já agora, vontade (política) para verificar a “origem do dinheiro”.

A indústria do dinheiro impõe a necessidade de “reciclar” fluídos também sólidos, e por isso cria estas Etars, em territórios conhecidos por todos. Foi assim, é assim e vai ser assim.

A necessária impossibilidade

Nenhum país tem a capacidade para enfrentar tanto lixo de uma só vez, sabendo-se que mesmo países estruturantes usam este meio para fazer “investimentos” estratégicos sobretudo nas lideranças dos mesmos, garantindo assim “vantagem negocial” (depois patrimonial) sobre pessoas e bens.

Além disso, a banca (comercial e sobretudo de investimento) alimenta-se deste instrumento como de “pão para a boca” pois também esta tem necessidades – como remunerar os seus excelentíssimos administradores pelo “bom desempenho” nos resultados trimestrais? (Eles remuneram-se em prazo curto, não vá o diabo tecê-las!).

Precisam assim de uma conta “fora-do-balanço” para remunerar (sempre em valores líquidos) os senhores administradores, eles próprios constituintes de nova off-shores pois há que colher “o fruto da videira e do suor dos homens” (tantos deles clientes subscritores de produtos “estruturados” e infalíveis, capazes de aplanar o céu a qualquer contribuinte).

Importa assim “ao modelo” de negócio que a coisa funcione, sendo um aborrecimento estas notícias do Expresso que, pelo menos, têm o condão de colocar os ex.mos senhores da “massa” mais uma vez à janela, por detrás da cortina, enquanto exalam o fumo do cohiba, procurando saber se o nome deles merecerá uma chamada de primeira página.