Como entalar o Primeiro-Ministro? – As memórias do ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, estão agora em livro apresentado na capital num cenário da Corte onde uma facção expressou solidariedade e apreço através da sua presença. Foi ocasião para uns de apreço efectivo, para outros de agradecimento por favores recebidos e, para outros ainda, sinal de que “a luta continua” na tarefa hercúlea de “espetar facas” no primeiro-ministro.
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Todos conhecem o calendário definido pelo senhor presidente da República, em 2021, em informação fornecida ao Expresso e que apontava “os dias do fim” de António Costa para meados de 2023. E nessa rotação, a apresentação do livro caiu como sopa no mel, sobretudo motivada pela citação de “um telefonema” do chefe do Governo ao Governador que, como sabemos, deveria ser “informação reservada” e protegida pelo decoro das funções exercidas.
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O cenário que nos foi fornecido pelas televisões permitiu-nos revisitar memórias e sensações de outrora ao revermos personalidades que ali acorreram sabendo muito bem o que estavam ali a fazer: política.
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Evidentemente que o livro tinha de ser apresentado pelo nosso vizinho de Fafe conhecedor que é das magníficas possibilidades que um telefonema tem para desbloquear questões do dia e apresentar solução para quem nelas (as dificuldades) acaba ou pode cair. Cinco estrelas pois pela escolha do cicerone.
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Nesta coisa de calendários é sempre preciso saber a “agenda” editada por Marques Mendes que tendo dado os primeiros passoas políticos como assistente do saudoso governador civil de Braga, Ribeiro da Silva, amigo de seu pai, ele também advogado ilustre da nossa praça nos tempos quentes da nossa democracia, cedo aprendeu que a política tem o síndrome da cebola: é preciso descascar mesmo que no fim não sobre nada, apesar das lágrimas nos olhos, mas sabendo que também pode fornecer um belíssimo estrugido para o maior dos manjares.
Referimos aqui o nosso vizinho, não por ele precisar que falemos dele, mas para explicar que a sua escolha para apresentar o livro do Governador foi a melhor maneira de o autor explicar ao que vinha: “acertar contas com o governo” que lhe finou o mandato.
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Más línguas defendem que também era a possibilidade de se garantir assim a “participação” no cenário do senhor presidente da República mas, desta vez, não vamor por aí. O “aperto” dado na Trofa à ministra da Coesão ainda está a produzir efeitos e nestas coisas é preciso dotar as novidades com a dose certa.
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Mas que a coisa está ligada, está, mesmo quando parece que não está. E tem estado sempre.
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Puxando cenas da memória ainda disponível, convidamos os leitores a lembrarem-se daqueles momentos em que corajosos apoiantes de Rui Rio se empenharam em promover a sua candidatura à presidência da República, coisa entretanto abortada com a apresentação da “cenoura” da futura liderança do PSD.
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Ao mesmo tempo, Marques Mendes anunciava na televisão que o país “necessitava” da candidatura do professor Marcelo Rebelo de Sousa. Perante este “anúncio” o então putativo candidato interrogado pelos jornalistas assobiou para o lado não sem antes dizer: “Isso são coisas do Marques Mendes”.
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Todos sabemos o que aconteceu e por isso verificamos que as “coisas do Marques Mendes” acabam por ser “facto político”. Esta apresentação do livro do Governador foi apenas isso, um facto político, carregado de facas longas e algumas esperançosas nos dias que vêm aí.
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Significativa a presença de Passos Coelho – o ex-primeiro-ministro que sempre apoiou Carlos Costa no Banco de Portugal – e que não cabe na classificação dos presentes que escrevemos nas primeiras linhas. Ele tem respiração própria, com a paciência dos chineses planeia o futuro e com a practicidade dos ingleses escolhe os momentos de aparição, sendo para os presentes uma manifestação da esperança não consumada mas desejada. Veremos.
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Frequentando a Corte de Lisboa, gere o silênco e pratica o recato, protegendo-se da espuma dos dias e dos entusiasmos de ocasião. Começa a ser uma “ave rara” na capoeira” da capital por entender que o silêncio é de ouro. E talvez seja!
___________edição 11 de novembro de 2022

Bullying político na Corte de Lisboa
A vida custa a todos e talvez por isso nem sempre tenhamos cuidado no respeito devido a pessoas e instituições. A palavra fácil, a inoportunidade da circunstância, o descontrolo das emoções as apetências por objectivos a conquistar levam-nos muitas vezes a cair no exagero da comunicação.
Na política onde reina o princípio da liberdade de expressão mas também o lugar da conquista das vantagens individuais e institucionais, este descontrolo verifica-se embora esperemos que dos seus responsáveis haja a acutilância no verbo mas , ao mesmo tempo, o devido respeito institucional que todos os eleitos merecem.
Caimos no bullying político de que foi exemplo a intervenção pública do senhor Presidente da República, ali na Trofa por ocasião da inauguração da sede da Câmara Municipal, quando se dirigiu directamente à ministra da Coesão Territorial num tom de “cantar-ao-desafio”, num acto de relativa intimidação e mesmo de humilhação.
Todas as semanas o senhor Presidente reúne com o Primeiro-Ministro e no recato do palácio de Belém tem oportunidade para o balanço da semana política e onde encontra todos os esclarecimentos nomeadamente os relativos à execução dos programas operacionais. A preocupação do Presidente além de legítima é premente dada a fraca execução do PRR.
A ameaça de demissão recorda os poderes do Presidente, mas a oportunidade do anúncio apenas teve o condão de provocar os gáudio dos jornalistas que ali encontraram o momento alto dos telejornais da noite.
Numa democracia de qualidade, um ministro não pode ser destratado assim publicamente dado que a sua legitimidade no cargo também se verifica e lhe deve garantir o respeito institucional pela função que exerce. Mas não aconteceu. E porquê?
O Bullying na Corte
A senhora ministra é casada e o seu marido foi objecto de “escrutínio” pela comunicação social por opções empresarias que tomou e mereceram o epíteto de “tratamento favorável”. Questionada respondeu que não encontrava na lei nenhuma razão para o seu cônjuge estar limitado na sua liberdade empresarial.
O tempo (curto) levou os jornais a esquecerem este episódio, tendo-se mantido a necessidade de colocar a ministra na linha de fogo.
Foi o que aconteceu na Trofa, vindo o ataque da mais alta figura de Estado. Porquê?
Ninguém sabe (saberá) mas questionam-se as razões dado que em política nada acontece por acaso.
Acontece que a senhora Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, exerce funções de comando no exército de Pedro Nuno Santos, na “operação especial” preparada para o assalto à liderança do Partido Socialista. O achincalhamento da imagem desta senhora faz parte do propósito público de afectar o direito que tem à boa imagem e o respeito pela sua dignidade pessoal e política?
Devemos considerar todas as hipóteses e prestar atenção aos desenvolvimento que os tempos próximos aclararão e que nascem da tensão interna na preparação da mudança da liderança após saída de António Costa. Coisa aliás prevista pelo senhor presidente em 2021 e que apontou meados de 2023 como a epifania da libertação dos portugueses do actual líder, no governo desde 2015.
Miguel Alves – dois meses no Governo
Escolhido por António Costa para seu secretário de Estado com funções de coordenação do Governo, o ex-autarca de Caminha experimentou o vinagre do vinho velho da corte que, ao que parece, conhecia mal.
A “oportuna” divulgação de um contrato feito, em nome da autarquia, foi escalpelizado à exaustão tendo o processo sido “concluído” com a acusação feita pelo Ministério Público que obrigou Miguel Alves à demissão.
Da análise à documentação disponível, verifica-se que a lei não foi ferida, tendo o então presidente da Câmara actuado no âmbito das suas competências. Como sabemos, para os republicanos o critério moral/ético de avaliação das acções é o “cumprimento da lei” ( o que de facto é pouco!). Tendo, pois, cumprido a lei porque se demitiu?
E voltamos ao bullying….. Fornecida (por quem?) a informação do contrato de Caminha, importava afastar (de quê?) este general, do círculo político de Costa (Chamem o António…. canta o Toy). E caiu!
Nos corredores do PS militantes (quase paramilitares nas concelhias) há muito que ocupam o tempo na “marcação” de fidelidades, e Miguel Alves – também presidente da Federação Distrital do PS de Viana do Castelo – estava a dar os primeiros passos para entrar nesta luta. Vítima pois de fogo “amigo”, cai em combate.
Outros se adiantarão para a linha da frente, mirando a onda do ministro Santos, mas todos em conjunto experimentam o cansaço do palpite: é que António Costa resiste e parece alimentado a pilhas “duracel”

Por Arnaldo Meireles